Sisma que não sara

Para Bloínques. Sei que não é ético falar desse tipo de coisa em contos, mas está aqui meu tiro no quarto escuro. Será que acerta o interruptor? E, não, não diz respeito à minhas crenças, e eu estou bem e feliz ultimamente, não se preocupem. Entendo se não quiserem ler por causa do tamanho.

As leis e regras eram fixadas em cada indivíduo assim que esse tomava consciência de que existia. Dalí para frente, cabia a cada um deles seguir entre o mau ou bom caminho. O caminho do meio terminava no mesmo lugar do mau, mas mesmo assim, a maioria dos corpos insistia em se manter no meio termo. Vagando, todos passavam a vida correndo atrás de seus ideais, seus pensamentos clichês e seus amores que nunca aconteceriam fisicamente. No final, todo mundo terminava em algum lugar, mesmo esse lugar não sendo aquilo que esperavam.
Um dos indivíduo fugia à regra, porém. Beijado pelas trevas, andava pelo mundo sabendo o que aconteceria depois que morresse. Bem, havia chances de que ele não morresse, já que havia passado pela morte e voltado. Enquanto descia para sua vida após a morte, concordou em arruinar os que visse caso voltasse, em troca do mundo de volta. Aqueles que o conheciam davam-lhe o nome de Cinza, pois seus olhos eram dessa cor, combinando com o que costumava dizer: pesadelos, justamente pelo acordo. Os sombrios, que não eram meio-termos nem bons-caminhadores, procuravam-no para ouvir desgraças. Cinza não se importava em contá-las, afinal, era tudo verdade.
Na sua tenda, sentava ocioso todos os dias, dias inteiros de pernas cruzadas. Esperava para ser indagado e poder apodrecer a mente daqueles que achava que mereciam. Num crepúsculo pesado, adentrou sua tenda uma mulher velha. "Está em casa, meia-idade", Cinza disse no deboche. Ainda não tinha visto os olhos da mulher e, assim que os viu, desejou nunca ter falado grosso com ela. "Pois trate de calar a boca. Não estou aqui para ouvir suas mentiras, Hermes." A mulher falou. Com as palavras frias, franziu o cenho de Cinza, que pela primeira vez em décadas, mostrou recuo.
A mulher continuou a falar: "E que cidadezinha é essa? Nashville, sério mesmo? Você costumava ser mais refinado. Essa cabana fede." Os olhos baixos passaram do cinza para o vermelho, e ele tomou coragem para olhar para cima de novo, então disse áspero: "E você se matou para me achar só para desdenhar? Diga o que quer, Sáda!"
A atitude de um para o outro se nivelou. Agora, podiam conversar no mesmo tom. Sáda se sentou e engoliu a saliva que devia ter sido usada anos atrás, vidas atrás. Com os lábios rápidos, disse de uma vez só bem baixo: "A Ceita está lhe pedindo para se redimir. Pode ser a sua chance. Falei com todos da organização e eles concordaram em te acolher novamente, desde que você peça desculpas, como é o trato. Eliza me pergunta de você todos os dias, eu disse a ela que você está longe dos humanos, mas ela vê as criaturas mortas e as indaga. As criaturas nunca sabem de você, e ela me questiona cada vez mais. Se for ficar nessa miséria de vida, volte para a Ceita ou tente morrer."
O silêncio fétido se instalou na cabana escura mais uma vez. A noite respirava pelos insetos que voavam sem zumbir perto do tecido. Cinza voltou à cor normal dos olhos e Sáda começou a olhar preocupada para ele. Já havia sido belo como ela era agora, mesmo velha. Os olhos dele eram azuis e não tinha de se esconder periodicamente em cidades humanas. Ele era humano, seus ossos eram feitos de corpo. Mas sua alma se resumia a chagas do passado. Ela queria amá-lo de volta, como quando Eliza foi feita. A menina era linda, assim como a mãe. O pai não deveria fugir à tradição; mesmo porque antes era bom.
"Eu não posso, Sáda. Fiz acordo e agora preciso terminar. Não vou mais morrer, estou aqui até que todos vão embora. Quando isso acontecer, não sei o que vai ser de mim. Eu não consigo sentir saudades, e a única coisa que me recordo de Eliza é que tinha os olhos azuis como os meus já foram. Desculpa se não posso sumir, e não consigo sentir nada. Me roubaram a alma e colocaram esse animal dentro de mim."
Sáda então recuou. Olhava para ele assustada, não acreditava que havia selado pacto. Todos esses anos procurando aquele corpo para descobrir que não mais a pertencia. A raiva foi tomando o espaço da tristeza, e ela segurou a lágrima que tanto esperou para brotar. Já tomada em desesperança, disse baixo enquanto ia embora andando de costas: "Essa distância que nos separará será a mais deplorável pela qual vou passar. Não lhe desejo mal, Hermes, muito menos bem. Não sei porque ainda acreditava lhe ver saudável. A única coisa da qual me arrependo é não ter te abandonado antes para seguir meu caminho rumo à bondade. Que cada um de nós termine em algum lugar, como fomos avisados."
Ela deixou a cabana e correu para a estrada que nunca terminava. Ele abaixou a cabeça para levantá-la em seguida e começar outra sessão. Olhou para o corpo em sua frente, que acabara de entrar na cabana e disse no deboche: "Está em casa, sente-se aqui."

13 escafandrinhos disseram algo:

Thais Cristina, disse...

Tenho que confessar que no começo fiquei meio receosa em ler o texto, mas você me surpreendeu. Se me permite dizer: Caramba garota, você arrasa, huahuahua ;)
Que você escreve bem, disso eu não tenho dúvidas, mas dessa vez você se superou; está muito bom mesmo. Adoro seu blog :)

"Está em casa, sente-se aqui." - arrasou (!)

Bjinhos ;*

- disse...

Li o texto sim e tamanho não é documento. O texto tá lindão, mesmo sendo um pouco grande :) Parabéns, você está escrevendo cada dia melhor. Sério, me surpreendi de verdade. AMEI.

Ah, muito obrigado por sempre passar em meu blog pra comentar e me elogiar e desculpa as vezes não retribuir a visita é que eu estou viajando e ando um pouquinho sem tempo.

Boa sorte no Bloínquês!
xx

Julia Melo disse...

FICOU 10 ! nem quero falar sobre essa edição ¬¬

Érica Stürmer disse...

leticia vim te agradecer por passar pelo meu blog http://ericavarallo.blogspot.com/ e comentar meu texto, te segui por simplesmente amei teu blog, seu layout é de outro mundo quem dera si eu conseguisse fazer um assim ): meus parabéns!

Sara Castro disse...

Mas é claro qe li !
adoro como escreve, rouba toda minha atençãao! =))

Paranéns *--*

Jeniffer Yara disse...

Fiquei se tempo de ler o post inteiro,mas espero que ganhe! ;)

Bjs!

Joy disse...

O texto pekenino em Courier New era pra mim, mas tuudo beem...
AEUHAEUHEAU

Ler o que vc escreve as vezes me da vontade de escrever tbm...
pena que nao tenho tempo... nem pra escrever, nem pra desenhar mais xD.. quem sabe depois do dia 20 de julho =x

Beeijo linda =]

Thaíse Lima disse...

Menina, vc escreve de um jeito que não cansa e quando acaba fica um gostinho de quero mais. Foi isso que eu senti ao ler seu texto maravilhoso.
Já disse que você escreve muito bem e cada dia, você consegue ficar melhor. Você arrasa mesmo!
Bom obrigada por passar lá no meu blog, deixar seus comentários tão construtivos e ainda deixar meu link ali do lado. Obrigada mesmo.
Beijooos enoooormes!

Monique Premazzi disse...

Não ler pelo tamanho? Você está brincando, né? Se foi você que escreveu vale super a pena. Você sempre escreve coisas que são muito boas de ler e não perturba sabe? Eu adoro o seu jeito de escrever amiga. Boa sorte no Bloinques! *-*

ps: Ai Lê, eu sou insegura assim mesmo e não tem jeito KKKKKKK Sério que você acha que escrevo bem? Ai eu me acho super amadora, tem tanta gente boa de verdade por ai e eu aqui ainda estou tão crua.
Vou postar logo a 4 parte de Angel, talvez amanhã mesmo, vou ver se minha mente me da o ar da graça para poder pensar mais e postar outras coisas. Fico feliz que está gostando, é muito bom pra mim ser aceita assim e minha insegurança vai sumindo aos poucos.
Nunca escrevi um livro, mas já tentei sim! Mas parei, não acho que ainda estou preparada pra isso sabe? Acho que ainda preciso conhecer mais do mundo, mesmo assim eu ADORARIA escrever um.
50 PARTES? KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK
Acho que eu mato alguém assim! E eu vou deixar a sua sugestão de filhos gravada no meu historico mental (?) pode deixar. Ainda não sei o que vai acontecer nesse conto, ele está sendo tão espontâneo para mim.
Obrigada sempre amiga *-*

xx

Yasmin c.k. disse...

É, coisas tristes podem acontecer quando tenta se driblar a morte. Mesmo que isso fosse possível penso que seria regra para todos que esta segunda, terceira, quarta vida não seria mais a mesma, teria o gosto de tomar bomba (nunca tomei bomba mas imagino como é ruim repetir tudo já sabendo a matéria), repetir uma vida correndo o risco de viver os mesmos erros, não vale a pena pacto, não vale mesmo. Ótimo conto.

Unknown disse...

Achei SUPER interessante :)

Fernanda Pessanha disse...

Muito profundo flor, e mesmo grande seu texto teve muito conteúdo em cada linha. A história foi bem explicada no final, e eu gosto de textos com um pouco de mistério no início.
Adorei a parte dos olhos azuis de Eliza, por um instante achei que Hermes sentiria saudade de sua Eliza.
Todos nós fazemos escolhas, e essa foi a dele.

Dika Fashion disse...

Olá minha linda, estamos fazendo uma campanha para ajudar as pessoas desabrigadas pelas chuvas ocorridas em ALAGOAS E PERNAMBUCO se puder por favor, coloque a foto do post da campanha que se encontra em meu blog, em um post seu, e peça também que as suas leitoras façam o mesmo. Será de grande ajuda acredite :D


Agradecemos demais toda a sua atenção

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Tenho um blog no qual publico coisas que não consigo dizer neste aqui, Leticia Poesia, que é mais movimentado. Só disponibilizo para pessoas que não conheço, para meus amigos blogueiros. Se quiser ler, é só me mandar comentário com e-mail que eu coloco na lista de leitores.

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