A descoberta
Não me considere vulgar se não entender que o sexo pode ter poesia. Novamente, avisando sei-lá-quem coisas que não preciso mas que sinto vontade.
Olhava para si então pelo espelho. Dezesseis anos sim senhora. Embora o cabelo estivesse lá, cacheado e desalento, a expressão era efemeramente prolixa, oscilando entre o fugaz e o inteiramente genuíno, tamanha a descoberta. Os olhos pretos, tão cegos anteriormente, agora viam tudo: o mundo não era mais cortado em categorias, não havia divisões a serem feitas. Era tudo um conjunto e a soma era de número astronômico mas prazeiroso.
Não havia mais dormir e acordar sem o sonho tangível. As peças simplesmente corriam para seus lugares, e o quebra-cabeça era ela mesma: levando o que sentia durante a noite numa bolsa de crochê que tecera com as próprias mãos.
Pelo dia, era ainda melhor: conhecia garotos. E os aceitava, o que fazia seus lábios se afinarem e os dentes aparecerem. Como acabara de ouvir falar, não fazia mais sexo com o homem em si, fazia-o com o modo como ele tratava o garçom, com o lustre que preenchia o campo de visão dela por traz do cabelo bagunçado dele.
Também com seus sapatos, com o mendigo gritando lá fora, na rua. Ouvia seus berros e isso a colocava numa nova linha de pensamento, dentro da própria transa: ela estava ali, o homem estava dentro dela, mas num universo paralelo, inserido naquela mente feminina, ocorria uma guerra emocional. O homem só estava lutando contra a vida, para fazer daquele momento o clímax de um dia desgraçado. Era a luta pela qual ele iria morrer.
E o homem dentro dela nada sentia, tudo ignorava. Porque mesmo cinco anos mais velho, não havia tido, nem por um segundo, a descoberta dela. Aquela mudança que a fazia sorrir de cova a cova das bochechas: o mundo era um só.
A exatidão e precisão dos segundos eram mera coincidência, porque tudo poderia mudar. Como sempre mudara, pois era dessa forma que sua vida com a vida de todos os seres vivos caminhavam: lentamente e unidos.
O mundo era um, e ela entendia isso.
Eu adorei esse texto. Está preso entre a crônica e o conto, pois não sei a frequência com a qual isso ocorre entre jovens, ou até mesmo adultos. É um tipo de analogia com o que espero de meu futuro. Muitíssimo obrigada ao escritor Fabrício Carpinejar, me inspirou dos pés ao coração.
Não havia mais dormir e acordar sem o sonho tangível. As peças simplesmente corriam para seus lugares, e o quebra-cabeça era ela mesma: levando o que sentia durante a noite numa bolsa de crochê que tecera com as próprias mãos.
Pelo dia, era ainda melhor: conhecia garotos. E os aceitava, o que fazia seus lábios se afinarem e os dentes aparecerem. Como acabara de ouvir falar, não fazia mais sexo com o homem em si, fazia-o com o modo como ele tratava o garçom, com o lustre que preenchia o campo de visão dela por traz do cabelo bagunçado dele.
Também com seus sapatos, com o mendigo gritando lá fora, na rua. Ouvia seus berros e isso a colocava numa nova linha de pensamento, dentro da própria transa: ela estava ali, o homem estava dentro dela, mas num universo paralelo, inserido naquela mente feminina, ocorria uma guerra emocional. O homem só estava lutando contra a vida, para fazer daquele momento o clímax de um dia desgraçado. Era a luta pela qual ele iria morrer.
E o homem dentro dela nada sentia, tudo ignorava. Porque mesmo cinco anos mais velho, não havia tido, nem por um segundo, a descoberta dela. Aquela mudança que a fazia sorrir de cova a cova das bochechas: o mundo era um só.
A exatidão e precisão dos segundos eram mera coincidência, porque tudo poderia mudar. Como sempre mudara, pois era dessa forma que sua vida com a vida de todos os seres vivos caminhavam: lentamente e unidos.
O mundo era um, e ela entendia isso.
Eu adorei esse texto. Está preso entre a crônica e o conto, pois não sei a frequência com a qual isso ocorre entre jovens, ou até mesmo adultos. É um tipo de analogia com o que espero de meu futuro. Muitíssimo obrigada ao escritor Fabrício Carpinejar, me inspirou dos pés ao coração.
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27 escafandrinhos disseram algo:
LETÍCIA! LETÍCIA GOMES! LETÍCIA LISPECTOR, CLARICE GOMES, CLARICE LISPECTOR GOMES!
AIIIIIN EMBANANEI TUDO!
BEM, AGORA EU TENHO DUAS "ÍDOLAS" ...
RS ...
ADOREI DE VERDADE...
Vc que é não comum, Letícia, com 15 anos e escrevendo dessa maneira, parabéns! Vou voltar com calma para degustar toda sua sensibilidade/posts/imagens/letras...
Qto a desconhecer alguns personagens descritos no meu post, uns são amigos-blogueiros, outros, amigos de perto, outros são escritores como Clarice Lispector, Caio Fernando Abreu, Ricardo Thomé, Walter Moreira Santos...
Aguardo nvs visitas! Um bom fim de semana!
PS: Seguindo vc!
que conto liindo *--*
sexo com certeza tb pode ser poético :D eu ameei seu conto, super bem escrito e as ideias muito boas :)
ps:Parla come mangi é uma expressão italiana que significa 'fale do mesmo jeito que você come'. na página 'sobre' do meu blog ta explicando melhor *-*
beeijos linda;*
Menina, não sei onde alguém pode encontrar vulgaridade no texto. Não vi nenhuma, ele te embala de forma tão inebriante que não se lembra que uma relação sexual é uma relação sexual. Gostei muito do que li, de verdade. Da forma como misturou os pensamentou e como explicou a segunda mente da cabeça feminina. Já te sigo faz tempo e voce vem melhorando sempre. Continua viu? Quero ver o resultado maravilhoso dessa metamorfose continua. Parabéns :D
Gostei muito disso, gostei mesmo. Você escreve que é uma loucura.
Caramba, foi intenso e nada vulgar.
Abraço meu.
AMEI, nem sei o que falar *-* E também acho que sexo pode ser poesia.
Ah, adoro quando eu abro a página de comentários e você está lá, sempre dizendo que eu escrevo muito pra minha idade, KKKKKK Você também escreve muito e seus textos sempre me inspiram.
Beijo xx
Sério, esse texto mexeu comigo de tão bem escrito! Você é excelente!!!
Bom, se der passe no meu blog :)
bjs
Adorei os detalhes do texto, consegui montar as imagens na minha cabeça.
Parabéns!
=*
Letícia, primeiramente obrigado por visitar ;D
Quero dizer sobre aquele post, que o apaguei, e não foi pelo seu comentário (caso você pense que sim) e sim porque o texto dava um ar de realidade, o que eu não gosto muito de passar por ser muito pessoal.
Sobre a gramática, “mas” e “mais” eu tenho uma dificuldade enorme, não em saber quando é um e outro, e sim na hora de escrever. É terrível , espero me livrar disso algum dia :)
Clarice Lispector diz muita coisa que eu sinto e não consigo dizer. Ela é mesmo ótima *-*
Ah, também quero dizer sobre o significado da palavra “cicatrizar” no texto, eu não disse que o tempo faz você curar todas as feridas, esperando para que elas se cicatrizem, o que eu disse é que as pessoas tendem a se adequarem a sua realidade. E sim, muitas vezes, por conta da realidade, elas deixam de sentir, e isso está longe do que é “esquecer”, afinal, toda cicatriz deixa marcas, mesmo que o tempo te modifique e não te faça sentir as mesmas coisas de antes. Espero ter passado meu ponto de vista :*
De qualquer forma, obrigado pela visita e pelas palavras. Também fui sincera em meu comentário, bjs:*
E qual menina não vibra com os dezesseis?
por que afinal, depois doz quinze... vc adiquire muitas responsabilidades!
(;
quanta intensidade!
Cara,!
Demais Lêe *-----*
Parabéns :D
a cada dia melhor ^^
wooow.. parabéns ;P
ao ler, me lembrei de dom casmurro. Na verdade, não sei o porquê, mas me veio uma leve lembrança.
Mtt bom
Bjss
http://refugiodiario.wordpress.com/
Tão intenso .
Tão real.
sim sexo também é poesia, e vc me inspirou muito, amanha vou postar sobre sexo.
Beijo grande e sim você estar na minha barra !
Continuuo acompanhando =]
=*
de perto, sempre...
Acho que todo mundo quer fazer uma descoberta assim. Através do sexo, do amor, de qualquer outra coisa. Só alguma coisa que mude a visão que se tem.
A cada dia seus textos estão melhores, dona Letícia! =)
:*
Leticia, quando você escreve, você TOMA CONTA.
Muito bom Letícia.
Beijos.
Menina linda, faço das palavras do Franck as minhas tb.
Lindona,amei esse trecho:
"Os olhos pretos, tão cegos anteriormente, agora viam tudo: o mundo não era mais cortado em categorias, não havia divisões a serem feitas. Era tudo um conjunto e a soma era de número astronômico mas prazeiroso."
Essa é um dos primeiros sinais q logo aparecem q nos revelam q estamos crescendo.
Vc cada dia cresce mais como ser humano.
:*
Tudo é uma unidade. Tudo é um complemento.
Gente, vc escreve demais, humilha qualquer um. Parabéns!
E Obrigada pelas palavras, viu? ♥
QUE TEXTO BOM,mas não é qualquer BOM,é um BOM de MUITO BOM,MARAVILHOSO,INTENSO E MUUUITO BEM ESCRITO.
Amo aqui,sério.Rs'
No sexo há poesia sim,vi isso em seu texto! ><
Beijos.
Adoro vir aqui no seu blog. Seus texto tem um pouquinho do que minha avó diz. Eu adorei esse texto amr, muito, muito.
Nossa, você com sua idade escreve como se fosse uma escritora super famosa, e que sabe lidar com as nossas queridas palavras *_* :)
-
Amei o texto,é bem real na verdade.Eu o consideraria como uma crônica :D
Beeijos!
eu descobri coisas hj =x
ahuehaeuhauaheue
Beeijo =*
Bom, primeiro respondo tua pergunta: Tudo bem sim e vc? Obrigado pelos elogios e por ter passado pelo meu blog, lido e comentado.
Agora ao seu texto, vc me prendeu do início ao fim, desenhou as imagens de uma maneira incrível que me fez enxergar cada cena, cada movimento, não sei como não passei por aqui antes, mas agora que conheci seu cantinho, sempre que possível passarei por aqui e saiba que é sempre bem vinda no meu blog tbm...
Bjs =)
Nossa, os detalhes fizeram toda a diferença e sim, é difícil encontrar jovens que escrevam assim:tão bem. O texto é profundo, sentimento forte. beijos
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